Estão a par das novas regras de trânsito? Aquelas que nos obrigam a circular nas faixas interiores até a nossa saída ser a próxima, momento em que temos de nos deslocar para a faixa exterior?
Esta regra aqui:
Então, vamos imaginar o seguinte:
- eu sou o carro que está no interior da rotunda e que tem o trajeto a verde.
- o
estupido senhor de quem vos vou falar é o carro do trajeto vermelho.
O que aconteceu foi o seguinte:
- Eu e o
estupido senhor, abordámos a rotunda na mesma entrada. O
estupido senhor estava na faixa da direita e eu na esquerda (uma vez que eu ia sair na quinta saída da rotunda).
- Como mandam as regras, entrei na rotunda e desloquei-me para a faixa de dentro.
- Quando ia para sair, vejo o
estupido senhor a aproximar-se da minha saída, e constatei que o
estupido senhor havia feito toda a rotunda por fora.
(Reforço que íamos tomar a QUINTA saída.)
- O
estupido senhor não me viu, ía-me abalroando o carro, e para o alertar buzinei.
Como se não bastasse a asneira da rotunda, S. Ex.a, o
estupido senhor, parou no meio da estrada, sim, é isso, no meio das duas faixas, e colocou a cabeça de fora...
Devem estar a imaginar que não foi para me pedir desculpa pela asneira que fez...
Ignorei, contornei o obstáculo e continuei o meu caminho. Afinal, tinha um lanche combinado com o maridinho.
Estacionei o carro mesmo em frente ao café (que já agora recomendo porque tem uma doçaria ótima) e o
estupido senhor estacionou praticamente ao meu lado e começou em plenos gritos no meio da rua a chamar-me todos os nomes e mais alguns que o
estupido senhor sabia.
Olhei para quem o acompanhava e reparo numa senhora (essa sim uma senhora, educada), com uma barriga de quase nove meses, nervosissima a pedir-me desculpa pelo comportamento do energúmeno que a acompanhava, e que este estava assim, exaltado, porque se tinha assustado.
Eu cá para mim pensei: "está certo, assusta-se e desata a chamar nomes no meio da rua... parece-me uma bonita atitude!"
"- O senhor desculpe... conheço-o de algum lado?" - perguntei
"- pi, sua pi, vai levar no pi, filha da pi..." - respondeu enquanto crescia para mim com as mãos atrás das costas, claramente à procura de um motivo para me aviar um estaladão.
"- Tenho pena sabe? Tenho pena dessa criança que vai nascer e que vai ter um pai como o senhor para lhe dar educação!" - respondi e virei costas e entrei no café, excolhi uma mesa e sentei-me.
Qual não é o meu espanto que o
estupido senhor entrou no café atrás mim, e continuou com o seu chorrilho de elogios (not).
"- Desculpe, se não tem respeito pelo seu filho, tenha respeito por todas as outras crianças que estão aqui no café!" - respondi-lhe, depois de constatar que as mesas estavam cheias de familias que claramente queriam aproveitar um fim de tarde de sexta feira para lancharem calmamente.
O
estupido senhor, seguramente descendente de boas familias, continuou a mostrar a toda a gente que sabia uma série de palavrões... (Deve ter feito googlado palavrões e estava entretido a debitar toda a informação que havia apreendido.)
"- Há uma coisa que eu tenho mais que o senhor, e que se chama educação!" - disse-lhe
Entretanto o maridinho entra no café, apercebe-se que há confusão e pergunta-me o que se passou. Respondi que aquela ave rara tinha feito asneira na rotunda e que estava há cerca de 10 minutos naquela figura.
Calmamente, o maridinho pousou as coisas na mesa, dirigiu-se ao
estupido senhor disse-lhe algo e, com o rabinho entre as pernas, o
estupido senhor foi para uma outra mesa tomar o seu lanche.
Corajoso, o
estupido senhor que enquanto estava a chamar todos os nomes possiveis e imaginários a uma mulher era um herói, mas assim que apareceu alguém do tamanho dele acalmou-se e fugiu cobardemente.
Eu cá, mal a situação terminou, tive uma descarga de nervos que não aguentei e chorei. Sim chorei, não tenho vergonha de o admitir, estas ofensas gratuitas mexem comigo.
Foi bom sentir a solidariedade de algumas pessoas que se aperceberam do meu estado e que se aproximaram a dizer: "não fique assim, há gente que não merece"...
Ganhei em não entrar no mesmo campo de discussão que ele.
Ganhei em não lhe chamar tudo o que me apetecia.
Ganhei em não ter gritado.
Ganhei em manter o meu nivel de educação em padrões socialmente aceitáveis...
As pessoas "do meu bairro" viram-me como sou e não como aquele senhor queria que me vissem.
Ainda há gente boa!
Agora à distância apercebo-me o quanto é fácil uma pessoa apanhar um tiro ou uma facada por causa de uma discussão no trânsito.
As pessoas andam exaltadas, alteradas, nervosas por toda a crise, e se calhar o
estupido senhor estava nervoso com a paternidade que se estava aí à porta e quis descarregar.
Uma lição aprendi: não me adianta ter razão se posso acabar estendida numa cama de hospital (se não pior).
E sim, pode ter sido o meu mau feitio a dar aquela buzinadela.