sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Voluntariado lá longe

Eu tenho uma posição no minimo estranha quanto ao voluntariado: sei que sem ele há muita coisa que não acontece, mas não sei se tenho estômago para isso.

Este meu sentimento de querer ajudar e não saber se consigo passa-se quando falamos em distribuir refeições pelos sem abrigo nas ruas de Lisboa, ir aos hospitais ajudar a animar aqueles que lá estão, organizar eventos com familias carenciadas, o que seja.

Tentei perceber porque é que eu queria tanto ajudar e nunca tinha dado esse passo, porque é que enfio a cabeça na areia tal qual uma avestruz. 

Acho que percebi: não me consigo desligar dessa realidade quando chega a hora de ir para a casa, para o conforto do meu lar, quentinho, com comida, água quente, para junto dos meus.

Não consigo ajudar uma criança durante umas horas e depois deixá-la onde a encontrei com a promessa de que voltarei outro dia para ajudar. Ir para casa e imaginar que aquela pessoa que estive a ajudar comeu provavelmente a única refição do dia e que vai regressar para um local que chama "casa" (quando este local existe...), e que provavelmente o pai ou alguem da familia vai chegar a casa bêbado e vai descarregar sobre esta criança ou sobre a sua mãe a frustração da sua vida.

É isto pronto, assumo queria muito mas nao posso largar as outras crianças e depois pegar nas minhas e seguir a minha vida como se nada se tivesse passado. Por isto prefiro fingir que não acontece.

Mas, felizmente, nem toda a gente é como eu e há muitas pessoas que estão disponiveis para ajudar e acima de tudo gostam e sentem-se bem a ajudar.

Aqui há uns tempos tomei conhecimento de um projeto que me despertou a atenção porque li algo como :

"O aeroporto faz o terminal de autocarros de Alcobaça parecer um luxo. "
Quem me conhece sabe que a terra onde "quem passa por Alcobaça, não passa sem lá voltar" é a minha terra isto bastou para tentar perceber o que se passa neste projeto.

Comecei por ver uma página de Facebook, e acabei num blogue.

Para mim tem sido viciante seguir as aventuras de alguem que deixa o conforto que a sua vida aqui neste cantinho à beira mar plantado proporciona (sim, ainda que com crises e furacões, assim somos um povo abençoado) para ir ajudar aqueles que já se esforçam por ajudar naquela que é considerada a maior favela do mundo.Não sabem do que falo? É disto


Penso eu, aqui atrás deste computador: Como é que alguém larga um T2 em Alcântara para ir para aqui??  Sitio que quando chove as pessoas mandam sacos cheios de ... (isso) para o meio da rua, onde só há água 3 dias por semana, onde o HIV é mato, onde bicharada anda por ali como se aquela fosse a sua casa, onde um dos caminhos para chegar a qualquer lado é uma linha de comboio que está quase soterrada por lixo.

Quem é que no seu perfeito juízo toma uma decisão destas?? Quem???

Aconselho-vos... leiam este blogue e percebam as motivações desta miúda que ainda há meses nos entrava pela televisão dentro e que agora anda a espalhar magia pelo Quénia profundo ajudando a Marta a tentar dar melhores condições de vida e perspetivas de futuro àquelas crianças.... 

Imaginam o que é não ter coisas simples como guardanapos.... sim, essa coisa com que limpamos a boca a seguir a comer qualquer coisa...

Ou a entender o luxo que é ter uma toalha de banho.

Ou achar que comprar sapatos rotos é ótimo, porque qualquer cosa é melhor que andar descalço na m... e no meio dos ratos....

Ou a perceberem que uma piscina com a água verde, tão verde como a relva de um estádio de futebol é tão normal que não há mal em dar ali um mergulho.

Ou a não entender que num país onde ganhar 70€ por mês é um luxo, um frasco de Brufen custar 12€ é  um roubo.

Onde as escolas publicas são tudo menos escolas e por isso proliferam escolas privadas onde a educação de uma criança, na melhor escola pode custar 1000€ / ano. (sim porque onde há pobreza há sempre os que se aproveitam e os que fazem da corrupção a sua forma de vida...) 

Leio este blogue e dia após dia continuo a visitá-lo à espera de ver as ultimas novidades da Diana in Kibera (From Kibera With Love), leio-o com uma ponta de inveja de não ter coragem de fazer uma coisa destas, mas contente por ver que há mais gente boa neste mundo do que gente má.

Acima de tudo e como cada um faz voluntariado como se sente melhor, decidi partilhar esta iniciativa deliciosa aqui neste espaço, neste espaço tão meu onde escrevo que me me apetece, sem censura, sem rede porque quero levar este projeto ao conhecimento de vocês que têm paciencia para me aturarem e para que cada um de nós possa de alguma forma ajudar...

Perguntam-me: Não se podiam ajudar as crianças em Portugal? É preciso ir para longe?

Sim, podemos ajudar as crianças de cá. Não, não é necessário ir para tão longe, mas ajudar não tem fronteiras.

Diana continua a apoiar com Força com esse projeto! 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

São todos uns filhos da P....


Como outros tantos milhões de portugueses, este fim de ano vi a mini-série que a SIC exibiu sobre Tutankamon.

Sim esse faraó do antigo Egipto que só há meia dúzia de dias é que foi descoberto aquele que se pensa ser o seu sarcófago.

Ao ver estes 3 episódios de uma assentada só, fiquei certa daquilo que o povo diz é bem verdade.... muitas das vezes aquele que se pensa que manda é quem tem menos poder.

Se o que se passa dentro de um palácio é algo próximo daquilo que esta série pretendeu transmitir, livrem-nos de algum dia termos a pretensão de querer mandar em qualquer coisa.

Existiu de tudo: havia quem dormisse com o inimigo, havia os falsos conselheiros,matou-se por ciúme, deixou-se morrer por ambição. 

Um faraó que foi obrigado a crescer e aos nove anos foi ordenado que casasse com a sua irmã e que desse um filho para continuar o sua linhagem no poder. Um faraó que foi obrigado a aceitar toda a corja de gente que habitava aquele palácio. Um faraó que foi obrigado a fazer-se ouvir para poder sobreviver...

Não estranhamente os únicos que lhe eram realmente fieis  foram aqueles que por ele foram escolhidos para estar ao seu lado, aqueles que vieram do povo e que apenas queriam ser felizes, sem pretensões de poder ou de riqueza...

Até na morte foram uns filhos da mãe para o faraó que permitiu (segundo contam) que o Egipto não desaparecesse do mapa, ao enfiarem-no nua câmara qualquer sem direito a identificação e sem o respeito que lhe era merecido...

Ó grande imperador, se estás por aí fica a saber que, mais vale tarde que nunca e agora o mundo já sabe o quão grande foste, mesmo por detrás da tua inexperiência e da tua juventude...





Se não tiveram oportunidade de ver esta série façam-no e garanto-vos que ficarão presos do primeiro ao último minuto...




Quer-me parecer que volvidos tantos anos, esta realidade ainda permanece atual, mas isto sou eu com o meu mau feitio a dizer coisas...